A Lenda de Tarzan: Muito bonito o rosto, muito fraca a trama



Um dos personagens mais icônicos da ficção, criado em 1912 por Edgar Rice Burroughs, Tarzan já foi retratado diversas vezes na literatura, em quadrinhos e desde 1918 é adaptado para o cinema. Difícil alguém não conhecer essa história tão enraizada na cultura pop. O bebê órfão que, sozinho na selva africana, acaba sendo criado por macacos e desenvolve habilidades físicas superiores às de pessoas da civilização, além de poder se comunicar com os animais, é uma referência à tantas histórias mitológicas, como a lenda de Rômulo e Remo e Mogli: O menino lobo, por exemplo.

Falando nisso, ao final da sessão, a única coisa que pensei foi que eu deveria ter assistido o longa Mogli (2016) antes (e ainda não vi). Isso porque, apesar do 3D meia boca de A Lenda de Tarzan (2016), o filme tem estratégia e efeitos visuais que prenderam muito minha atenção, coisa que em Mogli (2016) também parece ser um grande trunfo percebido já no trailer. Então talvez eu ficasse menos impressionada com o filme nesse aspecto. Porém, voltando ao 3D, parece ter sido mais uma vez um recurso mal utilizado pela direção. A fotografia do longa é escura, seja na Londres acinzentada, cenário do início da história, seja nas cores fortes e quentes do Congo, e não há muita profundidade de campo, o que faz a tecnologia vista na telona ser desnecessária.

Sobre o roteiro, anos após ter saído da selva e vivendo na civilização, John Clayton III (Alexander Skarsgård) é um lorde que tenta se desligar da figura de Tarzan e da fama que a cerca. Casado com Jane (Margot Robbie), esta parece ser a sua única ligação mantida com o passado, além das memórias de uma vida livre de imposições sociais. Formalmente, Tarzan é Lord Greystoke, e este é convidado pelo Rei Leopoldo que nem dá as caras no filme, da Bélgica, a fazer uma visita ao continente africano. Relutante em aceitar, John acaba sendo convencido por George Washington Williams (Samuel L. Jackson), um ex-combatente da guerra civil norte-americana, que acredita que o monarca belga vem escravizando nativos no país e precisa de ajudar para provar isso.

Temos no meio disso tudo um vilão típico de Christoph Waltz e é muito triste ver um ator com tanto potencial, sendo rotuladíssimo. Waltz é o imoral Leon Rom, que prometeu entregar Tarzan ao líder de uma tribo de canibais (Djimon Hounsou) em troca das pedras preciosas da região. E aí, já sabe né? Vira aquele feijão com arroz de saga do herói para salvar a mocinha que foi sequestrada, muita luta na selva com animais muito bem trabalhados no CGI, as piadinhas mal humoradas típicas dos personagens de Samuel L. Jackson, flashbacks mostrando aquela história que a gente bem conhece... Enfim, nenhuma novidade.

Sobre os flashbacks, destaque para a divertida cena que mostra como Tarzan e Jane se conheceram. A Jane de Margot Robbie procura fugir sutilmente da linha "donzela indefesa". Robbie demonstra força no olhar e na atitude, mas infelizmente o roteiro não vai muito além no empoderamento da mulher. 
Em se tratando de violência e drama na história, o roteiro pega leve justamente pela classificação indicativa, na ambição de conseguir um público maior. Fico bem triste com blockbusters que se rendem nesse sentido, prejudicando o desenvolvimento natural da trama.

Para quem não sabia, assim como eu, David Yates, dirigiu os últimos filmes da saga Harry Potter, a partir de A Ordem da Fênix (2007), e isso ajuda a entender a percepção que o diretor costuma inserir em seus trabalhos, principalmente no aspecto visual. Coincidência ou não, também não sou muito fã dos últimos filmes da saga do bruxinho, embora em um saldo geral, os classifico como razoavelmente bons, mas que deixam muito a desejar se comparado com os ótimos “O Prisioneiro de Azkaban (2004), “A Pedra Filosofal (2001)”, “O Cálice de Fogo” (2005) e “A Câmara Secreta” (2002)” (por ordem de preferência SIM).

A Lenda de Tarzan (2016) também recebe esse veredicto. Razoavelmente bom, mas facilmente esquecível. Assim como aquela sua crush


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