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Até o momento, 50 Tons de Cinza é a maior sensação do ano. O livro já mexeu com o mercado de sexshop, motel e até de lojas de ferragens. E agora que o filme está prestes a estrear, o que se pode esperar dessa febre em 50 Tons?
Para quem vai ao cinema depois de ler a nossa crítica do livro com baixas expectativas, o filme pode ser uma boa surpresa. O longa tem uma das melhores trilhas sonoras atuais, trazendo clássicos como I Put a Spell On You e a popular Crazy in Love com novos arranjos, especialmente para o filme, ressaltando a sensualidade da letra e se encaixando perfeitamente nas cenas. Algumas delas, inclusive, parecem até terem sido escritas no mesmo timing da música, tamanha precisão entre cena e trilha sonora.
A diretora Sam Taylor-Johnson, conhecida pelo filme Garoto de Liverpool, fez o que pôde com a história rasa que lhe foi apresentada. O roteiro foi feito pela própria autora de 50 Tons, a E.L. James; e, por isso, o filme é bem fiel ao livro - alguns diálogos chegam a ser exatamente iguais. Antes da estreia, vazou na internet uma polêmica envolvendo a cena final do filme, roteirizada por James, mas modificada por Sam. A versão que ficou no longa é a da autora, que brigou para que a palavra "pare" fosse utilizada ao invés de "vermelho", sugerida por Taylor-Johnson que remete aos limites rígidos do contrato entre dominador e submissa; mas a versão proposta pela diretora seria bem mais adequada, ao meu ver.
Uma das poucas, mas relevantes diferenças entre filme e livro, e que não deveria existir se a autora fez o roteiro, é que falta a tensão sexual entre os personagens. No livro, nota-se a eletricidade entre Anastasia e Christian em cada momento que estão juntos, mas no filme isso não é explícito; o relacionamento deles fica com cara de amor à primeira vista.
A atuação de Dakota Johnson, como Anastasia Steele, é uma das boas surpresas do filme. A atriz explora as diversas nuances de sua personagem e transmite exatamente o espírito e a inocência descritas no livro. Já Jamie Dornan, o Christian Grey, traz uma atuação previsível, o seu personagem é fechado, misterioso e sexy, e ele incorpora isso, mas faltam as camadas do personagem, o que o torna daquela maneira; então Dornan atua como se ainda fosse apenas um modelo de cuecas da Calvin Klein.
Os tons de sacanagem ficaram apenas no livro, o filme passa longe das cenas quentes tão esperadas. O sexo em 50 Tons de Cinza, que deveria ser o ponto alto, é comportado. O BDSM e a linguagem foram suavizados, talvez com a esperança de baixar a faixa etária e atrair o público teen; mas torna-se um ponto negativo no filme. Punições, chicotes e açoites são objetos efêmeros nas cenas e não uma das principais fontes de prazer do dominador Sr. Grey. E a nudez, tão presente e naturalizada no livro, é pouco explorada na tela, ficam apenas alguns quase nus frontais.
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Mais uma das poucas, porém relevantes diferenças entre filme e livro é a relação de Anastasia com as práticas sexuais de Christian. Não fica claro em momento algum do filme se ela sente prazer ou repulsa pelos castigos aos quais é submetida, o que acaba obscurecendo um dos lados do seu relacionamento com Grey.
O longa 50 Tons de Cinza repete a relação abusiva e machista apresentada no livro, mas sem o atrativo das bem detalhadas cenas do sexo, o que pode desapontar o público que vai ao cinema esperando um softporn. E ao tentar trazer o BDSM para o mainstream, o filme erra na dose e o suaviza tanto, que perde-se a essência da prática; 50 Tons será um sucesso de bilheteria, mas não um sucesso memorável. Talvez consiga a atenção de adolescentes cheios de hormônio e loucos para dar uma espiadinha nos espectros mais sexuais da vida.
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