- Então, eu quero que você faça um filme sobre o
Mario.
- Que Mario?
- O dos videogames. Ah, droga, perdi a oportunidade
de fazer uma piada agora.
- Beleza. Eu faço o filme.
- Certo. Então, Mario é um encanador e tem o irmão
dele, o Luigi, e...
- Beleza. Até a próxima.
- Calma, eu mal comecei a detalhar o universo do
personagem.
- Eu tenho o suficiente.
E essa foi a conversa entre o produtor e o diretor
de Super Mario Bros. (1993).
Devo logo adiantar que não sou contra reinterpretações
para o cinema de histórias de outras mídias. Assim como nos quadrinhos há
diversos universos paralelos e origens diferentes para o mesmo personagem e
tudo é sempre recontado. Ou assim como o próprio Mario é tenista, piloto,
doutor, lutador, menos encanador nos games.
O problema é quando parece que só usaram o
personagem para vender o filme e daí mudaram TUDO. É o que parece ter acontecido
com o Super Mario Bros., dirigido por Rocky Morton e Annabel Jankel (sério? Foi
preciso mais de uma pessoa para dirigir isso?) e roteirizado por Ed Solomon,
Terry Runte, Parker Bennett (só pode ser sacanagem... Três?).
Talvez tenha sido essa grande quantidade de pessoas
envolvidas com o filme os grandes responsáveis pelo desastroso produto final.
Super Mario Bros. sabe nem onde se encaixar nas prateleiras. É aventura,
comédia (podemos debater isso), ficção cientifica, ação, fantasia e terror –
sim, estou aterrorizado.
Se você é um leitor atento, deve ter percebido que
entre os estilos de filme está ficção cientifica. Sim, isso mesmo, ficção
cientifica, pois, segundo a história do filme: há muito tempo, um gigante
meteorito atingiu a terra, criando um universo paralelo onde os dinossauros
continuaram evoluindo, virando seres inteligentes. O grande líder deles quer
agora unir os dois universos e então dominá-los. Não se perca, isso ainda é um
filme baseado nos jogos do Mario.
A verdade é que na década de 90, as adaptações
americanas estavam mais preocupadas em justificar as coisas. Jamais sairia da
adaptação de Mario, fosse quem fosse o roteirista, uma história de um simples
cara que pula em tartarugas e vai em castelos para resgatar sua amada princesa
(esse desespero pela razão também vitimou Street Fighter, como terei o prazer
de futuramente comentar).
Em uma entrevista do diretor Rocky Morton para a Nintendo Life,
ele comenta como a ideia original era mais madura, se focando na relação entre
Mario e Luigi, e como a produtora achou muito sombrio e deu uma suavizada. Isso
é bem notável. Os dilemas dos personagens são vazios e distantes, intercalados
por cenas de humor bem desagradáveis, como a de um capanga idiota colidindo com
uma placa de vidro. Falha no drama, falha na comédia.
De acordo com Morton, a ideia era imaginar que os
produtos vieram na ordem cronológica inversa. Ou seja, queriam mostrar como se
Mario e Luigi realmente tivessem existido na vida real e que os jogos que
conhecemos tivessem sido baseados em suas histórias. Isso revela toda a soberba
americana, como se pensassem: “Vou fazer um filme de um personagem de um game
japonês, mas vou construí-lo como se o jogo tivesse se baseado em algo
americano, ao invés do contrário”.
É crueldade dizer que o filme não usou referências
do jogo, o problema é que elas parecem ter sido jogadas sem nenhum zelo só para
dizer que estavam lá. Temos a grande língua do Yoshi (personagem que possui uma
movimentação fluída, sendo um belo efeito especial); uma criatura gosmenta que
vive dentro do cano (além da referência ao cano, a criatura é um fungo, assim
como um cogumelo também é); Boom Boom Bar (Boom Boom é o nome de um vilão do
game); e a batalha entre Koopa e Mario Luigi na ponte que lembra as boss fight
dos jogos Super Mario World e Super Mario Bros; entre outras.
O melhor do filme é quando você se dá conta de que
o protagonista é o Luigi (John Leguizamo). Finalmente um pouco de respeito para
o Mario Verde. Ele é aquele típico inocente-coração puro-sensível que lidera
muitos filmes sessão da tarde por aí. É Luigi que tenta passar uma lição de
moral durante todo o filme, que resolve grande parte dos conflitos, que está em
busca da amada princesa. Ele se posiciona para ser o queridinho do filme e só
não é mais porque não consegue ser carismático – ninguém é ali. Mario (Bob
Hoskins) é o segundo jogador dessa vez.
O filme em si não é agradável. É cheio de deus ex
machina e explicações mirabolantes. E, bancando o chato contra um filme
pastelão, eu pergunto: se vocês de Dinohattan (ok, esse nome da cidade foi bem
pensado) são répteis, por que toda essa semelhança com os humanos, com as
fêmeas exibindo seus seios em decotes vertiginosos? E por que vocês que se
dividiram em universos paralelos lá no período cretáceo sabem falar inglês (as
expedições inglesas não tinham limites)?
O desejo de querer racionalizar o bigodudo dos
games foi o pontapé inicial para uma adaptação fracassada. O projeto iniciou
com a mentalidade errada. Ao menos, tentando dar sentido para o título do jogo
e do filme, a razão conseguiu criar o melhor diálogo da obra:
Policial: Nome.
Mario: Mario.
P: Sobrenome.
M: Mario.
P: E você?
Luigi: Luigi.
P: Luigi Luigi?
L: Não, Luigi Mario.
P: Ok, quantos Marios há entre vocês dois?
L: Três. Mario Mario e Luigi Mario.
A Nintendo Life perguntou a Morton qual era a memória mais
marcante de ter trabalhado no filme. “Humilhação”, Morton respondeu.
Por que assistir a Super Mario
Bros.:
-Superação: Pode transformar sua vida. Ele
ensina como personagens que sempre ficaram em segundo plano podem algum dia ter
seu momento de brilhar. Apesar que talvez essa fosse a única vez que Luigi
preferisse ficar escanteado.
-Adaptações: O filme também deu fruto a
outras expressões artísticas.
Uma história em quadrinhos intitulada Super Mario
Bros. 2 está disponível para leitura na internet. O enredo foi escrito pelos
roteiristas originais e conta o que aconteceria após o final do filme (sim, o
longa termina com o gancho, como se eles realmente acreditassem que fossem
conseguir fazer uma sequencia daquilo). O objetivo era que a HQ tivesse dez
capítulos, sendo uma página liberada a cada semana, porém, desde outubro de
2014 não há atualizações.
Ainda em 1993 saiu Super Hornio Brothers, paródia
pornô com o ícone Ron Jeremy. Será essa a primeira vez que uma adaptação pornô
tem um melhor enredo que o filme original (como se eu já não tivesse assistido
e já soubesse a resposta, né, galera? (Brincadeira, é óbvio que eu não assisti
(é óbvio porque a internet aqui é lenta e ainda está baixando)))?
- (Mario) Party Hard: Dá para fazer uma sessão super
empolgante. Chame seus amigos, prepare a pipoca e os bons drinks e se divirtam
numa competição de quem consegue descobrir as referencias ao jogo em meio
àquele universo absurdo. Há várias outras reimaginações sem sentido não citadas
neste texto.
-Criatividade:
![]() | |||
Nem pra colocar o bigode... |
![]() |
A prova final de que os diretores estavam sob efeito de cogumelos. |
![]() |
Dennis Hopper, no papel do Presidente Koopa, fez o que era possível. Não agiu como um típico vilão descontrolado nem levou tudo tão a sério. |
E por último e mais assustador:
Mas enfim....
NOTA:
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