A cozinha política de Paola Carosella


Por Eduarda Esteves.

Como se estivesse na tela do programa MasterChef Brasil, a cozinheira Paola Carosella, 43, refina suas palavras, não economiza em intensas expressões corporais e no olhar que atravessa, que desperta dúvidas. De passagem pelo Recife para o lançamento do seu primeiro livro, "Todas as Sextas", a consagrada chef argentina esbanja carisma. Durante a coletiva de imprensa, realizada no Shopping Rio Mar, Paola reproduziu os semblantes divertidos e já conhecidos pelos espectadores do programa. Enquanto fala, Carosella se divide entre um sorriso mais doce e uma pitada de acidez, características que cativaram o público da televisão brasileira.

Na noite da última quarta-feira (30), Carosella tinha encontro marcado com os fãs recifenses para uma “tarde de abraços e autógrafos”, na Livraria Saraiva do Rio Mar. Preferindo ser chamada de cozinheira, Paola combina em seu livro um relato autobiográfico e mais de 90 receitas dos menus executivos que são servidos sempre às sextas-feiras em seu restaurante Arturito, com sede em São Paulo desde 2008.

Defensora da agricultura orgânica e familiar, a jurada do reality show sobre gastronomia da Band criticou o modelo atual do agronegócio brasileiro. Para ela, não há políticas públicas que defendam a alimentação orgânica e sustentável. "O que os governos fazem é tornar a agricultura um negócio com muitos benefícios e privilégios, o que não acontece no caso da agroecologia", explicou. A cozinheira argumentou ainda que existe uma grande mentira de que somente com esse modelo expansivo o mundo pode ser alimentado.

"A verdade é que nunca morreram tantas pessoas de fome como agora. O agronegócio é gigantesco, mas não alimenta o mundo inteiro", disse. Dona dos restaurantes Julia Cocina, Arturito e do café La Guapa, com sede em São Paulo, a também empresária afirmou ainda que a agroecologia não é só uma questão de alimentação. "Podemos mudar as estruturas sociais, a saúde das pessoas, a distribuição de renda e a ocupação das terras, mas isso não é feito porque não é um negócio rentável", lamentou.

Tendo na cozinha clássica a base para o seu trabalho, a argentina diz que não cozinha pratos revolucionários. Para ela, o a comida "gourmet" caiu na moda e geralmente não faz jus à origem francesa do termo. " Na França essa palavra é aquela pessoa que come em pequenas quantidades, alimentos com muita qualidade. No Brasil, a expressão se refere a comidas rápidas que se come em segundos", explicou.

Vinda de uma família com tradição de plantação para a posterior colheita, além de sempre manter o contato direto com a horta e com os animais durante a infância e adolescência, a cozinheira argentina radicada no Brasil, sempre quis fazer da cozinha uma profissão. Com a explosão dos programas de gastronomia e entretenimento no Brasil nos últimos anos, Paola acredita que pode ser um passo para as pessoas comerem melhor, mas que não é uma regra.

"Eu acho que muitos espectadores gostam de assistir ao programa por causa da diversão. Muitos sentam no sofá e comem um miojo ou um sanduíche com catchup, por exemplo". A jurada do MasterChef pontua que isso é um reflexo do maior acesso a comida mais barata e de pouca qualidade. "Os melhores ingredientes estão cada vez mais caros e mais difíceis porque os pequenos agricultores não têm assistência social e política no Brasil". 

 Durante a coletiva, Paola também não se esquivou de perguntas mais polêmicas e comentou sobre as diversas acusações de machismo direcionadas a participantes desta edição do MasterChef profissional. Ela afirmou que o machismo existe na cozinha, mas não é diferente do que no ambiente de trabalho de uma farmácia ou até em uma redação de jornal. "O mundo em que vivemos é machista. Mas ser cozinheiro é um trabalho fisicamente duro, é ingrato, o horário não ajuda uma mãe que precisa cuidar dos filhos e por isso, muitas vezes temos mais homens atuando na área".

Após atender a imprensa, Paola foi de encontro aos mais de 250 fãs que a esperavam na recepção da Livraria Saraiva. De longe, uma fila já estava formada e já dava pra ouvir os gritos e pedidos para que a cozinheira tirasse uma "selfie" e autografasse o livro de sua autoria. "Todas as Sextas" , da Editora Melhoramentos, tem 352 páginas e custa R$ 139.

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