Uma reflexão sobre Jessica Jones e Unbreakable Kimmy Schmidt



No último domingo (20), completou-se um ano da estreia de Jessica Jones. A série já deixou saudades e teremos que esperar até 2017 para ver a personagem em Os Defensores e, em 2018, na segunda temporada. Lembrando dessa data, queria fazer um texto sobre o primeiro ano do produto original da Netflix, mas ao pensar na abordagem, veio a mente uma outra série, Unbreakable Kimmy Schmidt, também do serviço streaming.

Por que uma série me levou a pensar na outra? Bem, as duas têm duas protagonistas fortes e que abordam uma temática que precisa ser discutida, o abuso contra as mulheres. Este é um assunto que precisa ser trazido à tona em produtos culturais, como séries de televisão. Isso porque eles funcionam também como uma pedagogia cultural, termo bastante trabalhado por Guacira Lopes Louro, pois os citados programas nos ensina sobre representatividade feminina, leva-nos a refletir sobre a violência contra a mulher e como podemos enfrentá-la.

A criadora da série Jessica Jones (Krysten Ritter) é Melissa Rosenberg, protagonismo dado a uma mulher, o que é bastante importante diante de um cenário dominado por homens. O olhar de Melissa para a personagem é trabalhado de forma sutil. Não é preciso uma cena explícita de violência para refletirmos sobre o mal que é a violência contra a mulher. O abuso sofrido por Jessica Jones por causa de Kilgrave (David Tennant) traumatizou a personagem e ela deixa isso bem claro para ele no episódio 6, quando Jessica diz que ele a estuprou. Kilgrave a “hipnotizou” e fez com que a personagem ficasse com ele sem nenhum consentimento da mesma.

Este é um tema que precisa vir à tona. No Brasil, por exemplo, uma denúncia de violência contra a mulher é feita a cada 7 minutos. Essa violência acontece também de maneira simbólica, principalmente em piadas que estão enraizadas em nossa cultura patriarcal e machista. Assistir à Jessica Jones faz você pensar sobre estes dados para que possamos fazer os kilgraves do mundo paguem pelo que cometeu. Além disso, a série também encoraja a nós, mulheres, a dar um basta em relacionamentos abusivos e que nunca esqueçamos que podemos nos unir contra esse tipo de violência.

Unbreakable Kimmy Schmidt tem como uma das criadoras Tina Fey. É uma série de comédia, mas que trata de maneira sutil o abuso que a protagonista Kimmy Schmidt (Ellie Kemper) e mais três mulheres sofreram ao serem sequestradas por um homem que se diz como Reverendo. Ele inventou uma história sobre o apocalipse e manteve as garotas (na época adolescentes) e uma mulher presas por 15 anos. Ao final da primeira temporada, há o julgamento do tal reverendo e, pasmem, muita gente acredita nele, colocando as meninas como culpadas. Aí entra a questão da culpabilização da vítima que sempre acontece no cotidiano. Já no final da segunda temporada, Kimmy encontra sua mãe e, numa montanha-russa, elas conversam com um dos diálogos mencionando a culpabilização da vítima. Não foi preciso nenhuma cena de abuso explícito para abordar a temática e nos fazer refletir.

Jessica Jones e Unbreakable Kimmy Schmidt são duas séries importantíssimas para o protagonismo feminino e necessárias para discutirmos a violência contra a mulher. São produtos culturais com diferentes estilos, mas com personagens mais semelhantes do que a gente pensa.

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