Tracey e outras coisinhas mais



Por Eduarda Nunes

No último dia 31, ganhamos da Netflix a primeira temporada de Chewing Gum, série comprada do E4, canal de televisão britânico. Seis episódios, todos de vinte e alguns minutos, que retratam a missão de Tracey Gordon, 24 anos, que tenta recuperar a puberdade perdida por causa da mãe protestante e a vida cristã.

Em paralelo a isso, a série retrata outros pontos importantes de serem abordados como as relações de gênero, quando o ex namorado de Tracey não mede esforços para diminuí-la o tempo inteiro, e relações de raça, quando o primeiro contato com o outro namorado dela é o pior imaginável entre uma mulher negra e um homem branco. E isso é só no primeiro episódio da série, no correr dos outros cinco conseguimos identificar mais pontos de tensão passíveis de uma discussão mais aprofundada.

Ao desenrolar do streaming nos deparamos milhões de vezes com a irmã de Tracey, Cynthia, saindo de uma vida sem perspectivas além de jogar ludo e envelhecer em família, e sua mãe condenando quase o mundo inteiro o tempo todo (inclusive fashionistas, cinéfilos e deficientes).

Embora pareça que a série vai girar em torno de Tracey, BDSM (Bondage, Disciplina, Dominação, Submissão, Sadismo e Masoquismo), masturbação, orgasmo feminino, drogas e sexo à três aparecem quase de casualmente pela trama. Sempre com humor, para poder passar quase sem provocar reflexão nenhuma.

Tracey mora em uma cohab em Londres onde aparentemente só moram imigrantes, entre eles Candice e sua avó, Esther, que são quase como as conselheiras sexuais e da vida adulta de Tracey. Plus pra Aaron, namorado de Candice, que é um homem que parece não estar inteirado sobre a virilidade.

Além de tudo, Tracey está sempre dialogando com a gente em todos os episódios, como se fosse a própria Woody Allen negra, divagando e confessando os sentimentos dela pra gente enquanto as coisas ainda estão acontecendo. Outro ponto que nos prende à série, que é bem rapidinha, é a sucessão de incertezas sobre os personagens: quando a gente pensa que tem certeza sobre Tracey, principalmente, ela surpreende. Apesar de parecer uma mulher ingênua, ela aparece com umas reflexões e atitudes não esperadas, mas nunca deixando de lado o ar irreverente e sarcástico que a acompanha durante toda a série.

A produção audiovisual é fruto do monólogo Chewing Gum Dream, escrito e apresentado por Michaela Coel (que também assina o roteiro da série), em que Tracey tem 14 anos, muitos hormônios e muitos pensamentos sobre a juventude. A peça esteve nos teatros de Londres entre 2012 e 2014 e para nosso alívio e gratidão, a segunda temporada da série já foi confirmada com mais seis episódios e deixa a gente na expectativa de vários plot twists maravilhosos.

Assistam a Chewing Gum!!

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