O que é ser homem? O que é ser mulher? Papéis sociais foram impostos a nós há tempos. Em uma série de reportagens sobre gênero, desenvolvida pela minha turma do sétimo período de jornalismo da UFPE (assista aqui), a professora de Psicologia Luciana Veras tratou as nuances do que a sociedade impõe para ser mulher: cabelos longos, estar arrumada sempre, por exemplo, são algumas das características. Já o homem tem que ser viril, com aquele aspecto do “macho” - só de falar essa palavra, centenas de situações nos vem à mente.
Essas imposições foram e são questionadas no âmbito
acadêmico e social. A mulher pode ser o que ela quiser. E o homem não precisa
provar uma série de características ditas de “macho” pra ser homem. Essa
desconstrução de papéis sociais é a base do novo longa do pernambucano Gabriel
Mascaro, que foi exibido nesta sexta (6), no São Luiz lotado de pessoas
curiosas e ansiosas por uma das obras nacionais de mais destaque no ao, ao lado
de Que Horas ela volta. Boi Neon ganhou diversos prêmios em festivais
internacionais e foi o grande vencedor do Festival do Rio de 2015.
No filme, somos imersos no cotidiano de um grupo que vive
viajando pelo interior de Pernambuco para trabalhar nas vaquejadas. Iramar
(Juliano Cazarré) prepara bois, alimentando-os, limpando-os, enfim, cuidando
desses animais, para mais tarde, à noite, serem levados à arena como um objeto
de competição a ser derrubado. Algumas cenas são fortes, em um filme
esteticamente impecável.
O que vemos em Boi Neon é um vaqueiro que almeja trabalhar
com confecção de roupas e Galega (Maeve Jinkings), uma caminhoneira que em meio
à sociedade patriarcal, cuida de sua filha Cacá (Alyne Santana). São papéis sociais
desconstruídos. Uma das cenas que mais chama atenção é quando todos estão na
estrada e, enquanto Galega dirige o caminhão, todos os outros estão dormindo na
caçamba do transporte.
Boi Neon é um filme de reflexão em meio ao retrocesso que o
Brasil vive hoje, onde o machismo é institucionalizado em situações nas quais
nós nem nos damos contas. Apesar de trazer essa desconstrução de papéis
sociais, os personagens em Boi Neon também carregam consigo preconceitos. Há
momentos em que Iramar é oprimido por gostar de costurar, mas em outras
situações ele se torna opressor ao utilizar “frango” como xingamento, por
exemplo.
A direção de Mascaro é uma beleza à parte. A fotografia e a
iluminação trazem cor à uma região tão retratada com estereótipos em filmes e
novelas. O diretor vem se consolidando, entre tantos outros de destaque, ao que
hoje é conhecido como Novíssimo Cinema Brasileiro. Além disso, a simplicidade
dos diálogos traz um tom nostálgico em certas situações. É um filme, também,
memorialístico por nos fazer lembrar de expressões e ações do cotidiano dos
pernambucanos.
Em 2014, fomos agraciados com a beleza de Ventos de Agosto.
Em 2015, Boi Neon se torna um filme necessário. No aguardo do que virá daqui
para frente.
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