O Homem, A Vida, O Mundo e O Sal da Terra


  A fantástica história de Sebastião Salgado não poderia ter sido mais bem reproduzida se não pelo renomado diretor Win Wenders (Pina, 2011), o próprio filho de Sebastião, Juliano Ribeiro Salgado e, principalmente, suas fotografias, que fazem parte de sua essência.

  A sensibilidade de Wenders mescla-se com a de Juliano e do Sebastião na construção da narrativa. Ao invés do enquadramento de um documentário tradicional, Sebastião olha e fala diretamente para nós telespectadores enquanto está refletindo sobre a história das suas fotografias. Cada momento da sua vida seja os mais árduos ou os mais prazerosos estão retratados em milhares de cliques que tornaram os “instantes” eternos em sua memória e na de várias gerações que poderão apreciar o seu trabalho.

  Nascido no interior de Minas Gerais, Sebastião teve uma infância intimamente rica e bucólica. Ainda jovem, mudou-se para estudar economia em Espírito Santo. Casou-se com Lélia Salgado, a mulher que foi e é essencial na realização de seus projetos. Após se envolver com grupos de esquerda durante a ditadura, ele e a esposa mudaram-se para Paris, local onde ele descobriu seu talento mais pessoal: a fotografia. Com toda coragem, largou tudo para seguir a carreira de fotógrafo social.

  Seu grande projeto “Outras Américas” levou 8 anos para ser concluído. Durante todo esse tempo, Sebastião vivia outras culturas, aprendia bastante e registrava tudo o que lhe marcava. Durante o filme, nota-se que cada foto possui uma história que ele expõe como se a foto fosse tirada no dia anterior. Como o próprio falou no filme “A força de um retrato é que em essa fração de segundo entendemos um pouco da pessoa que fotografamos.” Essa frase nos mostra claramente que a fotografia é muito mais que um simples clique, está intimamente ligada ao sentimento e memória; momentos que estarão documentados em nossa história pra sempre.

 O sucesso do seu primeiro projeto o permitiu viajar novamente para realizar muitos outros que sucessivamente foram sendo reconhecidos e premiados internacionalmente. Trabalhadores (1996), Serra Pelada (1999) Êxodus (2000) cada projeto realizado o fez passar por momentos árduos, mas extremamente importantes para ele perceber o quão visceral o ser humano pode ser (sobre as zonas de guerra).

 Depois de ter visto tantas coisas boas e ruins, Sebastião, enquanto refletia e andava pelo bosque onde passou a infância, o qual ele e sua esposa ajudaram a replantar as árvores no local de seca, decidiu, diante de tanta beleza, fazer uma grande homenagem ao Planeta Terra em seu último projeto intitulada Gênesis (2013), que apresenta as diferentes e belíssimas formas da natureza.


  A vida de Sebastião Salgado foi muito bem resumida em pouco menos de duas horas de filme que nos faz refletir sobre o homem, o tempo, a família e o mundo. Ele termina seu projeto exatamente como iniciou sua vida: em meio à natureza. No meio desses dois e iguais extremos ele viu e viveu de tudo, numa relação profunda com o tempo, que só fez contribuir para sua sabedoria e auto-conhecimento.  

Comentários

Postar um comentário