
Contém spoilers*
House of Cards, drama político do serviço de streaming Netflix, retorna mantendo o fôlego em seu terceiro ano. Depois de duas temporadas de sucesso, a série volta com uma nova abordagem, quase uma reinvenção.
Todas as artimanhas do casal Frank (Kevin Spacey) e Claire Underwood (Robin Wright) em busca do poder culminaram no impeachment do presidente Garret Walker (Michael Gill), fazendo com que Frank finalmente chegasse à presidência dos EUA. O casal, sempre calculista, estiveram um passo à frente em qualquer situação. E aquele ditado que diz "quando se está no topo o único lugar que você pode ir é para baixo", pode resumir bem o contexto desta terceira temporada de House of Cards. As consequências emocionais e políticas da chegada de Frank Underwood ao poder estão no centro desta temporada.
A temporada inicia com um salto temporal, quando Frank Underwood, já presidente dos EUA, tem que lidar com a crise do desemprego no país, que faz com que a sua popularidade caia e as disputas internas dentro do partido Democrata fiquem acirradas. Além de tudo isso, Frank ainda têm conflitos com sua esposa e parceira no crime, Claire Underwood, que anseia ser embaixadora dos EUA na ONU o quanto antes.
O criador de House of Cards, Beau Willimon, e os seus roteiristas, resolveram apostar em algo novo para a história da série. Com as duas primeiras temporadas focadas em estratégias políticas de sucesso do casal Underwood, o terceiro ano investe em novos tipos de arcos dramáticos, colocando o casamento de Frank e Claire Underwood no centro do jogo, os traumas emocionais de Doug Stamper (Michael Kelly) -que sim, sobreviveu ao ataque de Rachel - em um plano maior, e a relação entre Jackie Sharp (Molly Parker) e Remy Danton (Mahershala Ali) em destaque.
O maior acerto desta temporada foi abordar assuntos atuais referentes à política externa dos EUA. As relações entre EUA, Rússia e Oriente Médio são mostradas de forma polêmica. O ator dinamarquês Lars Mikkelsen interpreta Viktor Petrov, presidente da Rússia, praticamente um sósia do verdadeiro presidente russo Vladimir Putin. Até as meninas do grupo punk Pussy Riot aparecem no terceiro episódio, com uma forte crítica às políticas de repressão à liberdade de expressão na Rússia.
Em contraponto, a trama paralela de Doug Stamper, que foi o destaque da season premiere e de outros episódios, se tornou cansativa. Doug, em fase de recuperação depois do ataque brutal de Rachel, mostrou um lado vulnerável depois que viu seu cargo ao lado de Underwood por um fio. A vulnerabilidade de Stamper chega a ser cativante em alguns momentos, porém, a ambiguidade de suas atitudes fazem com que o personagem tenha uma empatia quase zero.
Frank Underwood, com o objetivo de aumentar a sua popularidade e sanar a crise do desemprego nos EUA, cria o polêmico programa America Works, que consiste em subsidiar 10 milhões de empregos no país. Porém, para isso, Frank precisa de orçamento, e ele vê uma solução impopular para aumentar a sua popularidade: tirar os recursos da previdência social e movê-los para o America Works. A medida faz até lembrar da conjuntura política atual brasileira. Assim como Frank, a nossa presidente Dilma Rousseff está vendo sua popularidade cair no chão, ao mesmo tempo que anuncia medidas impopulares que aumentam a carga tributária e endurecem regras na concessão de benefícios trabalhistas.
Enquanto isso, Claire se esforça para se tornar embaixadora da ONU, e é aí que as coisas entre o poderoso casal começam a estremecer. Frank começa a mostrar o quanto é egoísta, e perde bastante da sua empatia. Quando Claire se torna embaixadora, ela demonstra toda a sua sensibilidade e vulnerabilidade, e se torna uma peça chave para e eleição de Frank Underwood em 2016.
Heather Dunbar (Elizabeth Marvel), advogada-geral que ajudou no processo de impeachment de Walker, entra para a disputa das eleições primárias para presidente dentro do partido Democrata e utiliza todas as suas armas como benfeitora jurídica e até Doug Stamper para derrotar Underwood. A personagem tem todas as características de uma mulher forte e pode-se dizer que ao lado de Claire Underwood, elas formariam ótimas candidatas à presidência da república.
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Thomas Yates (Paul Sparks e Frank Underwood (Kevin Spacey) |
Para alavancar o America Works e a sua candidatura em 2016, Frank contrata o escritor Thomas Yates (Paul Sparks), para escrever um livro sobre o programa. Só que o cara parece estar mais interessado na vida pessoal de Frank do que no AmWorks, O personagem funciona, de certa forma, como um terapeuta de casal. Frank, ao falar de sua vida, omite detalhes de sua vida conjugal, evidenciando o seu egoísmo, enquanto Thomas enxerga como Claire é importante na vida de Frank.
Todo esse jogo emocional e político deixa perguntas que permeiam a temporada e poderão ser respondidas na próxima: O quão forte é o casal Underwood? Será o fim de Frank na presidência dos EUA? Até onde vai o desejo pelo poder?
A terceira temporada de House of Cards manteve o nível de qualidade e agilidade no roteiro, apesar de algumas escolhas arriscadas em tramas paralelas, e mesmo sem a confirmação da Netflix para a quarta temporada, é esperado um retorno triunfal para 2016. E que venham as eleições!
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