A importância de 'Uma Rua Chamada Pecado'

Que cinéfilo nunca ouviu referências ao grande grito pela "Stella"? O longa que tinha como protagonistas Vivien Leigh e o jovem Marlon Brando impactou o mundo do cinema com seu roteiro denso, produção impecável e grandes embates com a censura. Enquanto Leigh, já eternizada em "E o vento levou", dá um show de interpretação como Blanche DuBois, temos Brando exalando talento e beleza interpretando o rude Stanley no longa que lhe fixou em Hollywood em 1951. Junte-se a nós para saber mais sobre o longa que possui diversos motivos para ser considerado uma obra-prima.

Existem filmes para se distrair e rir, existem filmes para se comover e chorar. Indiferente de sua categoria, existem filmes que vão muito além do prazer e entretenimento momentâneo, são aqueles que ficam guardados em nossa mente, sejam em reflexões ou simplesmente pelo fato de fixar suas sequências de imagens nas nossas cabeças e despertar não apenas a vontade de ver e senti-lo novamente como também de nos tocar em cada exibição com algo novo e não percebido antes. Certamente essa é a grande magia do cinema e homenagear produções que nos levam a este sentimento é o objetivo da nova coluna do ClaquetePOP 'Old but Gold', trazendo análises profundas de importantes clássicos da sétima arte.

Apesar de muitas dúvidas, cheguei a escolha da primeira postagem dentre tantos títulos essenciais. A produção StreetCar Named Desire (Uma rua chamada pecado - 1951), que trouxe um excelente conteúdo para o cinema na época que permanece intrigando os espectadores dos dias atuais.


O filme, adaptado da bem sucedida peça da Broadway, uniu dois grandes nomes do cinema clássico para protagonizar o controverso roteiro e arrecadar não apenas o Oscar de melhor atriz a Vivien Leigh, com sua provável melhor atuação no cinema, como também consagrar o jovem Marlon Brando como um grande nome de Hollywood e um instantâneo sex symbol após sua icônica performance como o rude e charmoso Stanley Kowalski.

O que dizer?

Apesar de ter sofrido diversas modificações por conta da censura da época, Uma rua chamada pecado consegue ser bem digno em um roteiro recheado de ótimos diálogos para interpretações majestosas. Vivien Leigh brilha em cada sequência como a desequilibrada Blanche DuBois, que após diversos conflitos em sua vida, como o suicídio do marido homosexual e sua demissão como professora por se envolver com um dos alunos, se vê saindo de sua vida nobre para pedir ajuda a irmã Stella Kowalski e morar com ela e o rústico cunhado Stanley em um bairro pobre de New Orleans.


Os 120 minutos do longa correm pelos olhos do espectador causando diversos sentimentos que se assemelham aos da personagem Blanche: Um misto de angústia, desconforto e excitação pelo que há por vir e pela rotina rústica das pessoas que habitam aquele ambiente de classe baixa. Na realidade, os problemas da personagem vão muito mais além, um arrependimento de feitos do passado somado ao receio do futuro e um pânico pela beleza perdida com o tempo, que no caso de Blanche a faz criar um mundo pessoal ilusório, uma prisão particular desesperadora levando-a pouco a pouco a loucura.

A movimentação da câmera no pequeno cenário em um clima claustrofóbico, a dominação brutal do homem em uma casa com duas mulheres, a tensão sexual entre uma mulher de pudores confusos e seu cunhado com a trilha sonora caracterizada pelo obscuro jazz formavam, junto as atuações de Leigh e Brando, um conjunto muito novo para o cinema do início dos anos 50, conflitando antigos costumes e pensamentos da sociedade com novos ou simplesmente reprimidos pela maioria.

Cenas de destaque:

Primeiro encontro de Blanche e Stanley

Grito de Stanley por Stella

Dominação de Stanley perante Blanche e Stella no jantar


Uma rua chamada pecado foi o filme de maior arrecadação do ano de 1951 e conquistou 4 estatuetas do Oscar. Seu elenco todo equivale ao elenco original da peça da broadway com exceção da atriz Vivien Leigh que atuava na versão britânica da peça ao lado do seu marido Laurence Olivier e foi chamada para o longa no intuito de agregar maior valor comercial a ele, visto que Brando e o resto do elenco não possuíam grande valor na época se comparados a eterna Scarllet O'hara de E o vento levou.


Curiosidades:

- Uma Rua Chamada Pecado recebeu 68 solicitações de modificação do seu roteiro original pelo Código de Produção vigente na época e Legião da Decência Católica. Mesmo após as diversas modificações, o filme teve sua versão final cortada na época de seu lançamento, refletindo na omissão do fato do ex-marido de Blanche ser homossexual e da cena de estupro de Blanche. Tal sequência foi re-adicionada ao longa, para nosso deleite, em sua versão blu-ray em 2012.

- A atriz Vivien Leigh sofria de transtorno bipolar na vida real e teve diversas dificuldades para diferenciar a vida real daquela existente para a personagem que interpretava.

- O apartamento torna-se menor ao decorrer do filme, tornando a sensação de claustrofobia da mente de Blanche algo sentido pelo público.

- Um dos dois únicos filmes a receber três oscars por quesitos de melhores atuações. O outro seria Rede de intrigas (1976).

Todos os principais atores do longa, com exceção de Marlon Brando, receberam o Oscar por suas atuações.
Vivien Leigh, Kim Hunter e Karl Malden.

- Na época de lançamento do filme, o diretor Elia Kazan estava a ter um caso com uma atriz de pequeno contrato em Hollywood e a apresentou para Arthur Miller, que viria a ser seu futuro marido. O nome dela? Marilyn Monroe.


Frases marcantes:

Tendo um roteiro adaptado de uma peça aclamada, é previsível que Streetcar named Desire seja recheado de excelentes diálogos. Das diversas frases inteligentes, algumas da Blanche ficaram gravadas no público ao decorrer dos anos, assim como o grito de Stanley pedindo perdão à esposa Stella.
   

"Eu não quero realismo, eu quero magia" - Blanche DuBois.

"Seja quem você for, eu sempre confiei na bondade de estranhos" - Blanche DuBois.


Legado:

Primeiramente a produção da Broadway e o roteiro de Tennessee Williams por si só já haviam consagrado o título Streetcar named desire e os personagens Stanley, Blanche e Stella para o público. Foi com a grande adaptação para o cinema, porém, que tivemos a solidificação do enredo, do ator Marlon Brando em Hollywood e a melhor performance de Vivien Leigh. O filme também imortalizou o auge da beleza de Brando, novas técnicas de filmagem e sua ótima trilha sonora composta em oposição ao estado de espírito dos personagens.
A peça e o longa até hoje são referenciados nas séries de TV ou em outros filmes, como o impecável Tudo sobre minha mãe (1999) de Pedro Almodovar, a série Modern Family e animações como The Simpsons e Family Guy.





Palavras finais:

É fácil encontrar no cinema clássico exemplos de filmes pobres em roteiro ou qualidade de produção mas que se tornam itens obrigatórios para cinéfilos por uma atuação marcante ou presença de atores ilustres como as encantadoras Marilyn e Audrey ou o intenso James Dean. Uma Rua Chamada Pecado é um dos que traz não só grandes atores em suas melhores atuações como também uma história densa em uma produção impecável. Torna-se difícil imaginar um apaixonado por cinema que não aprecie e se vislumbre com este longa atemporal.

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