Não assisti O Pequeno Nicolau (filme de 2009 que teve uma boa recepção de público e crítica), então minha opinião aqui é embasada puramente nessa sequência, na qual sou apresentada à Mathéo Boisselier, estreante no cinema e novo intérprete de Nicolau, papel antes vivido por Maxime Godart. Baseado na série de quadrinhos Le Petit Nicolas, criada por René Goscinny (cocriador de Asterix) e Jean-Jacques Sempé, a trama de As Férias do Pequeno Nicolau (Les Vacances Du Petit Nicolas) é ambientada, na maior parte do tempo, na praia Plage des Dames (Ilha de Noirmoutier - França) , onde o menino, seus pais e sua avó vão curtir as férias em família.
Com uma paleta de cores que favorece o vintage (mérito da excepcional direção de arte), a história do garoto inocente e imaginativo se passa entre as décadas de 50/60, e o diretor e roteirista Laurent Tirard fez questão de ressaltar todo o ar familiar e pureza que a época representa no nosso imaginário nostálgico. Mas, entre suas piadas, percebemos o quanto situações vividas pelos personagens são ainda semelhantes ao nosso tempo e principalmente, a nossa infância, como a vovó que adora mimar e dar beijinho, o pai que acha um "atalho" na estrada, o pessoal que passa protetor demais na praia, os farofeiros (a França é phyna, mas é gente como a gente) e os que se deixam tostar ao sol. O sinal escolar anuncia as férias e Nicolau não vê a hora de descobrir para onde vai esse ano. Entre as opções - litoral ou montanhas - seus pais sempre entram em conflito, mas é sua mãe (Valérie Lemercier) quem dá a última palavra.
Dessa vez, para o desespero do pai (Kad Merad), o motivo da briga agora é a companhia da sogra (Dominique Lavanant) na viagem, que claro, implica com o genro e vive falando do ex-namorado rico e bonito da filha. Entre novas amizades, pretendentes e confusão, quase tudo nos é contado sob o ponto de vista do pequeno Nicolau. Então pode esperar diversão e aventura com um quê de Os Batutinhas (The Little Rascals, 1994), que minha geração vai sentir leve associação. O plot aqui é Nicolau pensar que seus pais vão obrigá-lo a casar com Isabelle (Erja Malatier), menina aparentemente estranha e filha do amigo de infância (Bouli Lanners, de A Grande Volta) do seu pai, que eles conhecem no Hotel Beau-Rivage. Ideia essa que provoca terror no protagonista - com cena no hotel a la O Iluminado (The Shining, 1980) - por ameaçar seu futuro romance com Maria Edwiges (sua vizinha), então nosso herói resolve se unir aos amigos para sabotar tal acontecimento, criando sucessivos planos desastrosos e divertidos.
As ressalvas que tenho se encontram em alguns deslizes no roteiro, que provocam momentos de repetição e tédio. É desnecessária a duração de tempo de algumas piadas bobas que pouco efeito provocam, como o ronco da avó e toda a subtrama do diretor italiano, essa que além de tudo, exclui a presença do protagonista. A única coisa relativamente boa que destaco disso é a ironia acerca dos bastidores cinematográficos e da ideia de quem acredita que cineastas trabalham pouco. Outro destaque interessante mais percebido por adultos e por quem é da região, é o sentimento de solidão do diretor e do inspetor do colégio de Nicolau, que decidiram ficar em Paris nas férias. A cidade inevitavelmente está às moscas e só costuma ser frequentada por turistas. A cena do restaurante, em que até mesmo o garçom é estrangeiro, é sagaz e prova que o filme também atinge o público adulto, embora pouco.
Mais um ponto que não posso deixar de mencionar é o quanto a dublagem nos faz perder muito da essência francesa e da graciosidade da história, embora seja um feliz acerto da distribuidora em se tratando de alavancar o público aqui no Brasil. A obra é doce e singela e não tem a intenção de oferecer algo substancial e crítico, como parece ter ocorrido no primeiro filme. Seus personagens secundários, principalmente a turma de amigos de Nicolau, são estereotipados (o caçula chorão, o sabe tudo, o que come todo tipo de nojeiras, o que mora no hotel e o estrangeiro), resultando em pouco aprofundamento, mas cumprem a missão de divertir e mereciam mais destaque por conta das boas atuações.
O final não deixa a desejar e é engraçado a escrita ser presente tanto para o pai, que passa metade da viagem preocupado se escreveu um bom cartão-postal para o chefe, quanto para o filho, que escreve cartas para meninas. No geral, As Férias do Pequeno Nicolau parece ter cumprido seu objetivo, graças a sintonia do ótimo elenco, da direção perspicaz (na maior parte do longa) e de uma fotografia e direção de arte louváveis, não deixando de ser um entretenimento positivo para o grande público.
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