Rio doce/CDU só no cinema


O relato abaixo eu fiz para o antigo site que eu colaborava, o Alt Home, assim que Rio Doce/CDU estreou no Cine PE 2013, que aconteceu há um ano e alguns meses. O contexto utilizado naquela época era bem pertinente ao momento e, pelo visto, persiste até hoje. Rio doce/CDU ganhou as ruas, as praças e já foi exibido em festival argentino. Agora, o filme chega à TV, com exibição no Canal Brasil nesta quarta (30), às 19h, e quinta (31), às 17h. O documentário já se tornou histórico para mim. De lá para cá, a linha do ônibus já mudou de empresa. O clássico verdinho da Caxangá deu lugar a Metropolitana e CRT. De verdade, se você ainda não viu, tire 90 minutinhos do seu dia para viajar em uma das linhas de ônibus mais famosas da Região Metropolitana do Recife. Compra uma poca salgada ou doce e aproveita pra ir sentado(a) :p

É fato que o assunto mais discutido na Região Metropolitana do Recife fica em torno da mobilidade. Muito antes da discussão se expandir nas redes sociais, a cineasta Adelina Pontual produziu um documentário sobre o famoso itinerário do Rio doce/CDU, ônibus que ela pegava frequentemente para ir ao trabalho. A primeira exibição do filme aconteceu no Cine PE de 2013. Nesse dia, o festival ficou lotado, tal qual a famigerada linha de ônibus, por causa da produção pernambucana. 

Curiosamente, eu peguei o Rio Doce/CDU da UFPE até o centro de convenções. No engarrafamento, me perguntava como Adelina teria abordado toda a viagem do ônibus. Enquanto eu fazia os palpites, olhava para os mais diversos pontos pelo quais o Rio doce passava, inclusive rindo de alguns anúncios típicos de borracharia. Durante a exibição do documentário, todos esses lugares por que passei foram abordados de uma maneira fantástica. Adelina mostrou as histórias de pessoas comuns que costumávamos não enxergar, a gente acaba ignorando a realidade cotidiana. Quem imagina que um borracheiro define o bairro de Rio doce com a palavra desenvolvimento? No filme, alguns depoimentos se tornam verdadeiras relíquias da sabedoria popular, trazem reflexão e alguns fazem a gente rir. Seja porque foi engraçado ou porque nos faz lembrar de algum momento semelhante pelo qual passamos.

Durante toda a viagem, parecia que estávamos no ônibus. A direção de fotografia deixou tudo o mais real possível, toda a paisagem que estamos acostumados a ver, surgia no reflexo da janela do coletivo. O filme deu a oportunidade aos usuários de ônibus reclamarem da superlotação, horário e trânsito. Em todo o percurso, o Rio Doce estava lotado, só esvaziou no terminal, dando fim ao documentário. A trilha sonora comandada por DJ Dolores e Yuri Queiroga também merece destaque: as músicas fazem você viajar junto com o Rio doce/CDU e conhecer um pouco da cultura musical que nos cerca.


Mas aí, a viagem terminou e me dei conta que não tinha mais Rio doce/CDU lá fora, nem um bacurauzinho pra contar história. O último ônibus saiu às 22h30 e deixou a gente dependente de outros meios mais caros.

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