85 anos de Audrey Hepburn: Sobre o ícone, a vida e o amor



São seis da manhã na esquina da Rua 57 com a Quinta Avenida, em Nova York. Ao som da icônica composição de Henry Mancini, desce de um táxi amarelo uma jovem elegantemente vestida. Ela segura uma sacola que contém seu croissant e um copo de café e anda levemente até o seu destino. Para e observa inocentemente através da vitrine, a nova coleção de diamantes da joalheria Tiffany’s, ao mesmo tempo que degusta seu breakfast. A cena dura menos de 3 minutos no longa. Já na história do cinema, sua duração é infinita. Assim como o primeiro nome que surge na tela: Audrey Hepburn.


Capote queria Marilyn para viver sua prostituta de luxo e provavelmente daria muito certo. Infelizmente para ele, nem Monroe poderia interpretar a sua Holly Golightly como era no livro. A Paramount não permitiria e uma Holly mais “sutil” era o que tinha que ser visto na tela da década de 60 no cinema hollywoodiano. Hepburn cumpriu muito bem a sua missão de glamourizar e mostrar leveza a personagem e fez mais que o esperado. Trouxe a profundidade e dramaticidade que a protagonista merecia com seu talento e a imortalizou no mundo da moda para sempre. Impossível começar esse texto sem falar de Bonequinha de luxo (1961), obra mais lembrada da diva que completaria 85 anos hoje se estivesse viva.

Ao lado de George Peppard
Audrey Kathleen Ruston era belga (radicada na Inglaterra e Países Baixos), tinha nobreza no sangue (sua mãe era baronesa) e descendências holandesa, britânica e francesa. Seus pais se divorciaram quando ela tinha 9 anos e enquanto passava férias com a mãe em Arnhem (Holanda), o exército de Hitler assumiu a cidade. A segunda guerra causou depressão e desnutrição na vida de Audrey, mas ela foi salva pela "United Nations Relief and Rehabitation Administration", que chegou com comida e suprimentos. A ação a influenciou no futuro, se tornando embaixadora especial para o fundo das Nações Unidas UNICEF, ajudando crianças na América Latina e na África. Tarefa que cumpriu incansavelmente até o ano de sua morte, 1993.

Seu corpo esguio e sua postura foram adquiridas graças ao balé, uma de suas maiores paixões. Não tinha talento suficiente e era alta demais para se tornar profissional então, seguindo o conselho da sua professora, começou a investir em atuação. Fez Gigi na Broadway quando se mudou para os EUA e apesar das críticas da peça não terem sido favoráveis, a desconhecida que interpretava o papel principal chamou atenção e logo depois viveu a princesa Ann em Roman Holiday (A Princesa e o Plebeu – 1953), vencendo o Oscar de melhor atriz. Audrey foi também a quinta artista e a terceira mulher a conseguir ganhar as quatro principais premiações do entretenimento norte-americano, o EGOT - Emmy, Grammy, Oscar e Tony.

                                                 



MODA - Musa de Givenchy, ele era o único capaz de criar roupas que a faziam se sentir ela mesma, nas palavras da própria. Foi ao encontro dele em Paris para que assinasse seu figurino em Sabrina (1954) e a parceria não parou mais. Se os diamantes eram os melhores amigos de Marilyn (olha ela aqui de novo), as pérolas eram as de Audrey. As listras, o oxford, o pretinho básico, os óculos escuros no formato “gatinho” e a adorada calça skinny também. Ícone fashion pela simplicidade que exalava com um toque de glamour. Repetir roupa? Pode sim. Audrey surpreendeu ao usar um dos figurinos de Roman Holiday no Oscar. O modelo foi adaptado do filme pela designer Edith Head. Recentemente, as principais roupas da diva foram leiloadas. O dinheiro foi doado para instituições de caridade inglesas, através da Unicef. Cada peça custou em torno de U$ 164 mil dólares.




Em 1963, interpretou a vendedora de flores Eliza Doolittle, em My fair lady. Entretanto, a voz de Audrey foi descartada para as canções, sendo dublada. Isso deixou a atriz extremamente irritada e fez com que abandonasse as gravações por um dia. Audrey não foi indicada ao Oscar (fato que é considerado uma injustiça) por isso e também pela não-escolha de Julie Andrews, que interpretou Eliza na Broadway, para o papel. Andrews ganharia o Oscar e o Globo de Ouro daquele mesmo ano por Mary Poppins. No Globo de Ouro, Julie concorreu diretamente com Audrey, na categoria Melhor Atriz em Comédia ou Musical. Em seu discurso, ela agradeceu a Jack Warner, sambando na cara dele então presidente dos estúdios Warner Bros, por não tê-la escalado para o papel em My Fair Lady. Nenhuma disputa profissional afetou a relação das duas, que sempre foram amigas.

Audrey sonhou muito em ser mãe. Teve cinco abortos antes de dar à luz a Sean, seu filho com o ator Mel Ferrer. Se afastou da carreira para se dedicar à família, mas voltou incentivada pelo marido, devido a sua depressão na vida pessoal. Apesar das tentativas, o casamento fracassou. Seis semanas após seu divórcio com Mel Ferrer, se casou com o psiquiatra italiano Andrea Dotti, com quem teve seu segundo filho, Luca Dotti. Separaram-se em 1980. Foi quando ela se dedicou totalmente as causas sociais. Atualmente, existe a Fundação Infantil Audrey Hepburn, que continua o seu trabalho de ajuda humanitária e filantropia.


  
Morreu aos 63 anos, na Suíça, depois de uma dura batalha contra o câncer. Em um total de 31 filmes, 5 indicações ao Oscar, 3 prêmios BAFTA de Melhor Atriz britânica em um papel principal, também recebeu da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas o Jean Hersholt Humanitarian Award, por seu trabalho como embaixatriz internacional da Unicef (o prêmio foi entregue postumamente e recebido por seu filho, Sean Hepburn Ferrer) e entre todos os feitos aqui citados e ainda cortei muita coisa desse texto gigante, Audrey Hepburn teve uma trajetória de inspiração por onde passava, beleza e autenticidade (em todos os sentidos). Das entrevistas que vi dos que conviveram com ela, as palavras perfeita, única e amor são mencionadas algumas vezes. Seria impossível nós não sentirmos o mesmo.  




Comentários

Postar um comentário